Carlos Sperandio
Chega de Mestres dos Magos!
Uma das grandes lições deste 2020 é o vislumbramento da dificuldade que a sociedade tem quando discute os limites da autonomia plena do indivíduo frente à necessidade da promoção de segurança coletiva, escancarada pela pandemia de covid-19.
A geriatria, especialidade médica que debate no microcosmo familiar a importância da manutenção da autonomia do idoso até o limite da sua incapacidade cognitiva, permite a extrapolação de alguns pontos interessantes para tal debate.
Sabe-se, por exemplo, que os familiares devem assumir o poder decisório sobre a pessoa mais velha somente quando não há funcionalidade mental comprovada.
Este preceito promove debate fervoroso, seja por disputa de poder, seja por interesse financeiro.
O bom geriatra, nestes casos, coloca-se sempre na defesa dos interesses do seu paciente idoso, que muitas vezes fragilizado e acuado não consegue ter voz para expressar sua vontade entre os seus de mesmo sangue.
Por outro lado, vêem-se pacientes que não entendem os riscos de sua condição disfuncional, necessitando de controle externo para sua própria segurança e de terceiros, como no caso de condução de veículos e gerenciamento financeiro de pessoas debilitadas para estas ações.
Não é à toa que quem rege esses conceitos na Medicina é a disciplina da Bioética; a ela cabe determinar quais os caminhos sensatos, equilibrados e mais claros a serem percorridos nas decisões.
A pandemia extrapolou esta problemática ao macrocosmo.
Nos últimos meses, discutiu-se como nunca o que cada pessoa deveria fazer, pois imperava o interesse coletivo.
A exigência por lei do uso de máscaras há alguns meses e, agora mais recentemente, a vacinação obrigatória exemplificam como a segurança coletiva deve se impor aos interesses do indivíduo, quando este não demonstra capacidade de julgamento.
Na sociedade brasileira, carente de ética em quase todos os setores, não é surpresa a incompreensão da importância desta cooperação mútua.
Os cidadãos precisam aprender a fazer sua parte, mesmo com a dificuldade óbvia de não se ter alguém os ensinando; a carência de liderança intelectual, crônica, torna o chiar a esmo algo da significância de uma chupeta caída.
Questionar quem comanda pela falta de exemplo e ética não diminui o problema; propagar conhecimento e informação correta e segura sim.
Será preciso, além da vacinação e da manutenção do isolamento respiratório correto, muito bom senso, equilíbrio, humildade e - principalmente - perseverança para os formadores de opinião conseguirem guiar o país para fora da pandemia.
Você tem feito sua parte?
